||||||||||||||||||||||||||||||||| Cestas de Ontem

Um espaço para os basqueteiros saudosistas que insistem em revirar os arquivos da memória

terça-feira, janeiro 16, 2007

O alemãozinho e o Brasil no topo do planeta


Na medida do possível, o leitor vai dar as cartas por estas bandas. Logo no primeiro dia, foram várias sugestões de temas. Vamos então com a de Jarson Dantas, que nos lança quase meio século no passado. E quem nos ajuda a recordar o Brasil bicampeão do mundo é um personagem fundamental nas campanhas de 1959 e 1963. Na tarde desta segunda, bati um papo por telefone com Wlamir Marques, um dos maiores jogadores brasileiros de todos os tempos.

Daqui a exatos seis meses, no dia 16 de julho, Wlamir completa 70 anos. E o homem segue em plena atividade, como professor e comentarista da ESPN Brasil. Aos amigos do Cesta de Ontem, ele fala sobre a comoção na final de 63 contra os Estados Unidos, a mão de ferro do técnico Kanela com os atletas e o episódio curioso que quase lhe rendeu o corte antes do Mundial de 59, quando pulou a janela do hotel em Volta Redonda e fugiu da concentração para ver o nascimento do filho.

- Como foi aquela festa no Maracanãzinho lotado, após a vitória sobre os americanos na final de 1963?
- Olha, o ginásio estava cheio, gente pendurada por todo lado. Era uma época de ouro do esporte brasileiro: o basquete, o futebol, o boxe, com Éder Jofre. O país respirava as primeiras conquistas mundiais. E não eram conceitos de televisão. A final do basquete, por exemplo, só foi transmitida ao vivo para São Paulo, e mesmo assim com vários links ao longo da Via Dutra. Então, quando terminou o jogo, teve invasão de quadra, perdemos todos os nossos pertences [risos].

- A idolatria era muito forte na época?
- Nós éramos bastante conhecidos, mas o curioso é que éramos bem vistos pelo nome, não pela imagem. Os bicampões do mundo saíam na rua e... tudo bem. Só um ou outro sujeito reconhecia, porque o acompanhamento maior na época era pelo rádio e pelos jornais.

- A preparação era muito diferente do que se vê hoje?
- Ah, sim! Para chegar a esse bicampeonato mundial, foram quatro ou cinco meses de preparação. Jogamos o Sul-Americano no Chile, o Pan em São Paulo, e depois fomos para o Rio, com a mesma equipe. Naquela época, só recebíamos uma ajuda de custo, o equivalente a uns R$ 2 mil.

- E por falar em preparação, você quase foi cortado pelo técnico Kanela antes do Mundial de 1959. Como foi essa história?
- Era o dia 22 de dezembro e a seleção estava em Volta Redonda, no Rio. Eu queria ver meu filho nascer e o Kanela não deixava. Falei pro Amaury: "Vou embora". À noite, pulei a janela do hotel, peguei um ônibus e fui para Piracicaba. De manhã, o Kanela foi perguntar para o Amaury: "Cadê o alemãozinho?" [risos]. Ele ficou muito bravo e ameaçou me cortar se eu não voltasse. No fim das contas acabou dando tudo certo e eu fui para o Mundial. Mas o Kanela era desse tipo mesmo.

- É verdade que o futebol quase te roubou do basquete?
- Eu era um bom goleiro. O Aymoré Moreira [ex-goleiro e técnico da seleção na Copa de 62] era fanático pra que eu ficasse no futebol. Na época em que treinei no Flamengo, em 1955, eu me dava muito bem com jogadores. O Zagallo, por exemplo. Eles me falavam muito da vida, da rotina, e acabaram me assustando [risos]. Aí fui para o basquete.

- Melhor assim, né. Você e Amaury foram os maiores craques daquela geração. Ainda conversam sobre basquete hoje?
- Eu falo com o Amaury de vez em quando. Ele fica o dia todo jogando golfe [risos] e, quando quer se inteirar de algum fato do basquete, me liga. Outro dia, me ligou para dizer que estava arrumando as coisas e encontrou uma foto antiga, com vários jogadores. Ele disse: "Olha, parabéns! Desses aqui, só nós dois estamos vivos!" [risos].

6 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Absolutamente genial a lembrança. Wlamir, um deus das quadras. parabéns uma vez mais. assim eu desisto de escrever... abs

10:58 AM  
Anonymous Anônimo said...

Como é importante trazer à memória do esporte nacional, em especial do Basquete, para os jovens de hoje que pouco conhecem do glorioso passado do Basquete nacional. Parabéns, precisamos cada vez mais de matérias assim, para que sirvam de exemplo.

11:15 AM  
Anonymous Anônimo said...

Muito obrigado Rodrigo, não apenas por acatar meu pedido, mas principalmente por nos brindar com a intrevista desse grande nome do basquete mundial...espero que, um dia, os nossos garotos possam saber mais sobre esses atletas nobres e seus feitos...numa epóca onde se ganhava "ajuda de custo" , mesmo sendo da seleção.

5:05 PM  
Anonymous Anônimo said...

Rodrigo, sem exagero algum. Até agora este blog tem sido um colírio para os meus olhos...

E parabéns Wlamir, com 6 meses de antecedência mesmo. Parabéns para o Wlamir Marques nós temos que dar todos os dias.

Ah se o nosso basquete voltasse a uma fase como aquela...

5:07 PM  
Anonymous Anônimo said...

Concordo com o Alfredo. Tá lindo o blog. Estive fora na última semana viajando, de modo que peguei o bonde andando e estou lendo de trás para a frente.

Parece que você não vai mesmo se esquecer de ninguém. Viva Wlamir! Não o vi jogar, mas o vejo há anos nas transmissões, nos ensinando um pouco do muito que sabe. Grande cabeça.

Pena que nosso eterno craque tenha hoje que "aturar" tantas peladas em nosso combalido basquete nacional.

abs,
Renzo Castello-Miguel
Vitória/ES

12:09 AM  
Anonymous Anônimo said...

Eu me pergunto: Hístorias tão lindas, nobres que nos orgulham. Será que voltarão a se repetir ?
Será 10% dos envolvidos no Basquete na atualidade, tem noção desse orgulho?
Como eu gostaria de ver Wlamir, Amaury, Oscar e outros liderando o Basquete nos dias de hoje...
As lembramças ficam.
Parabéns pelo belo blog.

1:02 PM  

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