||||||||||||||||||||||||||||||||| Cestas de Ontem

Um espaço para os basqueteiros saudosistas que insistem em revirar os arquivos da memória

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Ontem e hoje, um exemplo de obstinação




Corria o início dos anos 40 na cidade de Monroe, em Louisiana. Charles Russell embicou o carro num posto de gasolina e foi barrado. O frentista informou que um negro só poderia ser atendido depois de todos os clientes brancos. Charles decidiu ir embora, mas o funcionário, furioso, apontou uma arma para sua cabeça e o obrigou a esperar a vez.

Pouco tempo depois, Katie Russell foi abordada na rua por um delegado local. A autoridade mandou que ela fosse para casa e trocasse de roupa: "Um vestido como esse só deve ser usado por mulheres brancas", disse.

Revoltados com tanto racismo, Charles e Katie abandonaram Louisiana e se mudaram para a Califórnia, cientes do risco de viver na pobreza. Levaram com eles o filho de oito anos, William Felton. Tempos mais tarde, o pequeno William ficaria conhecido apenas como Bill.

Bill Russell, um ícone do basquete mundial.

Ao longo da carreira, o pivô do Boston Celtics sentiu o preconceito na pele inúmeras vezes. E jamais aceitou o papel de vítima.

Na Universidade de São Francisco, a única que o aceitou, foi hostilizado por colegas de classe. Provou seu valor levando o time ao bicampeonato da NCAA em 1955-56, incluindo uma incrível seqüência de 55 vitórias.

Na NBA, a intolerância continuou dando as caras. Quando se mudou do subúrbio de Reading para uma área mais nobre de Boston, o jogador foi ameaçado por vizinhos. Vândalos chegaram a invadir a nova casa e defecaram em sua cama. Jornalistas locais declararam abertamente que não votariam nele para MVP pelo fato de ser negro. Durante a carreira vitoriosa, a média de público no Boston Garden era de 8 mil torcedores, número ridículo se comparado aos 15 mil da época de Larry Bird.

Em Marion, Indiana, Russell ganhou do prefeito a chave simbólica da cidade. Após a cerimônia, chegou ao hotel e o restaurante se recusou a servi-lo. O craque foi até a casa do prefeito, o acordou e devolveu a chave.

"Eu sempre fui primeiro um homem, e depois um jogador de basquete".

Pois hoje, dia 12 de fevereiro, o homem completa 73 anos.

De longe, sem pretensão de ser ouvido, o Cestas de Ontem dá os sinceros parabéns. E agradece a Russell pela inesgotável capacidade de anular quem o atacava - dentro e fora das quadras.


(Foto: Montagem de Rodrigo Alves sobre imagens - NBA)

9 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Um exemplo dentro e fora das quadras.
Tenho dois DVDs que contam suas proezas... linda carreira!

8:22 AM  
Anonymous Anônimo said...

excelente texto, ótima homenagem. o melhor pivô, disparado, de todos os tempos. abs

2:41 PM  
Anonymous Anônimo said...

Pelo Houaiss.

Herói é:

Acepções
substantivo masculino
1- Rubrica: mitologia. Filho da união de um deus ou uma deusa com um ser humano; semideus
2- Rubrica: mitologia. Mortal divinizado após sua morte; semideus
3- Derivação: por extensão de sentido. Indivíduo notabilizado por seus feitos guerreiros, sua coragem, tenacidade, abnegação, magnanimidade etc.
4- Derivação: por extensão de sentido. Indivíduo capaz de suportar exemplarmente uma sorte incomum (p.ex., infortúnios, sofrimentos) ou que arrisca a vida pelo dever ou em benefício de outrem
5- Derivação: por extensão de sentido. Indivíduo notabilizado por suas realizações
Ex.: os h. das ciências
6- Derivação: por extensão de sentido. Figura central de um acontecimento ou de um período
7- Derivação: por extensão de sentido. Pessoa que, por ser homenageada ou por qualquer motivo (nobre ou pouco digno), se distingue ou é centro de atenções
8- Derivação: por extensão de sentido. Principal personagem de uma obra de literatura, dramaturgia, cinema etc.
9- Uso: informal. Indivíduo que desperta enorme admiração; ídolo

Sem dúvida Bill se encaixa em todas as definições.

5:25 PM  
Anonymous Anônimo said...

Bela homenagem

9:23 PM  
Blogger Basquete Brasil said...

Caro Rodrigo,mesmo que não seja ouvido pelo grande Bill Russel,sem dúvida o será por muitos,inclusive eu,que o viram jogar no Tijuca em 1967,quando aqui veio integrando a equipe da San Francisco University numa pré-temporada,e que na companhia de K.C.Jones fizeram uma apresentação inesquecível de basquetebol.Bela lembrança e justa homenagem.Parabéns pela matéria.Um abraço
Paulo Murilo.

2:04 AM  
Anonymous Anônimo said...

A comparação com os números de público na era Bird não seria um tanto injusta, considerando-se questões como o desenvolvimento da liga, o aumento populacional, a mídia, etc.?

4:09 AM  
Anonymous Anônimo said...

rodrigo

o texto sobre o russel emociona. conhecia o pivô ( um mosntro ) mas mas não conhecia o homem. é sem duvida muito maior que o pivô. muito obrigado pelo "cestas de ontem".

Laênio

6:34 PM  
Anonymous Anônimo said...

Parabéns pelo texto, Rodrigo! Dentro e fora das quadras, Bill Russel foi/é um fenômeno. Enfrentou os preconceitos sem se tornar amargo e revolucionou o basquete dentro do garrafão. Quando vejo alguns atletas jovens da NBA, cheios de marra achando que jogam muito, verifico que eles têm ainda muito a aprender. Vejam só parte do currículo de Russel:

- Bicampeão da NCAA pela Universidade de San Francisco

- Medalha de ouro (e capitão do time americano) nas olimpíadas de 1956

- Primeiro técnico negro da NBA

- 11 vezes campeão da NBA (em 13 temporadas disputadas como jogador!)

- Campeão da NBA simultaneamente como técnico e jogador (temporada 1968/1969).

Os últimos dois itens do curriculo que mencionei aqui, podem anotar, NUNCA SERÃO IGUALADOS OU SUPERADOS.

11:30 AM  
Blogger mayara. said...

ei rodrigo vai postar mais não? faz uma semana q tu não posta

6:46 PM  

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