Ontem e hoje, um exemplo de obstinação
Corria o início dos anos 40 na cidade de Monroe, em Louisiana. Charles Russell embicou o carro num posto de gasolina e foi barrado. O frentista informou que um negro só poderia ser atendido depois de todos os clientes brancos. Charles decidiu ir embora, mas o funcionário, furioso, apontou uma arma para sua cabeça e o obrigou a esperar a vez.
Pouco tempo depois, Katie Russell foi abordada na rua por um delegado local. A autoridade mandou que ela fosse para casa e trocasse de roupa: "Um vestido como esse só deve ser usado por mulheres brancas", disse.
Revoltados com tanto racismo, Charles e Katie abandonaram Louisiana e se mudaram para a Califórnia, cientes do risco de viver na pobreza. Levaram com eles o filho de oito anos, William Felton. Tempos mais tarde, o pequeno William ficaria conhecido apenas como Bill.
Bill Russell, um ícone do basquete mundial.
Ao longo da carreira, o pivô do Boston Celtics sentiu o preconceito na pele inúmeras vezes. E jamais aceitou o papel de vítima.
Na Universidade de São Francisco, a única que o aceitou, foi hostilizado por colegas de classe. Provou seu valor levando o time ao bicampeonato da NCAA em 1955-56, incluindo uma incrível seqüência de 55 vitórias.
Na NBA, a intolerância continuou dando as caras. Quando se mudou do subúrbio de Reading para uma área mais nobre de Boston, o jogador foi ameaçado por vizinhos. Vândalos chegaram a invadir a nova casa e defecaram em sua cama. Jornalistas locais declararam abertamente que não votariam nele para MVP pelo fato de ser negro. Durante a carreira vitoriosa, a média de público no Boston Garden era de 8 mil torcedores, número ridículo se comparado aos 15 mil da época de Larry Bird.
Em Marion, Indiana, Russell ganhou do prefeito a chave simbólica da cidade. Após a cerimônia, chegou ao hotel e o restaurante se recusou a servi-lo. O craque foi até a casa do prefeito, o acordou e devolveu a chave.
"Eu sempre fui primeiro um homem, e depois um jogador de basquete".
Pois hoje, dia 12 de fevereiro, o homem completa 73 anos.
De longe, sem pretensão de ser ouvido, o Cestas de Ontem dá os sinceros parabéns. E agradece a Russell pela inesgotável capacidade de anular quem o atacava - dentro e fora das quadras.
(Foto: Montagem de Rodrigo Alves sobre imagens - NBA)
9 Comments:
Um exemplo dentro e fora das quadras.
Tenho dois DVDs que contam suas proezas... linda carreira!
excelente texto, ótima homenagem. o melhor pivô, disparado, de todos os tempos. abs
Pelo Houaiss.
Herói é:
Acepções
substantivo masculino
1- Rubrica: mitologia. Filho da união de um deus ou uma deusa com um ser humano; semideus
2- Rubrica: mitologia. Mortal divinizado após sua morte; semideus
3- Derivação: por extensão de sentido. Indivíduo notabilizado por seus feitos guerreiros, sua coragem, tenacidade, abnegação, magnanimidade etc.
4- Derivação: por extensão de sentido. Indivíduo capaz de suportar exemplarmente uma sorte incomum (p.ex., infortúnios, sofrimentos) ou que arrisca a vida pelo dever ou em benefício de outrem
5- Derivação: por extensão de sentido. Indivíduo notabilizado por suas realizações
Ex.: os h. das ciências
6- Derivação: por extensão de sentido. Figura central de um acontecimento ou de um período
7- Derivação: por extensão de sentido. Pessoa que, por ser homenageada ou por qualquer motivo (nobre ou pouco digno), se distingue ou é centro de atenções
8- Derivação: por extensão de sentido. Principal personagem de uma obra de literatura, dramaturgia, cinema etc.
9- Uso: informal. Indivíduo que desperta enorme admiração; ídolo
Sem dúvida Bill se encaixa em todas as definições.
Bela homenagem
Caro Rodrigo,mesmo que não seja ouvido pelo grande Bill Russel,sem dúvida o será por muitos,inclusive eu,que o viram jogar no Tijuca em 1967,quando aqui veio integrando a equipe da San Francisco University numa pré-temporada,e que na companhia de K.C.Jones fizeram uma apresentação inesquecível de basquetebol.Bela lembrança e justa homenagem.Parabéns pela matéria.Um abraço
Paulo Murilo.
A comparação com os números de público na era Bird não seria um tanto injusta, considerando-se questões como o desenvolvimento da liga, o aumento populacional, a mídia, etc.?
rodrigo
o texto sobre o russel emociona. conhecia o pivô ( um mosntro ) mas mas não conhecia o homem. é sem duvida muito maior que o pivô. muito obrigado pelo "cestas de ontem".
Laênio
Parabéns pelo texto, Rodrigo! Dentro e fora das quadras, Bill Russel foi/é um fenômeno. Enfrentou os preconceitos sem se tornar amargo e revolucionou o basquete dentro do garrafão. Quando vejo alguns atletas jovens da NBA, cheios de marra achando que jogam muito, verifico que eles têm ainda muito a aprender. Vejam só parte do currículo de Russel:
- Bicampeão da NCAA pela Universidade de San Francisco
- Medalha de ouro (e capitão do time americano) nas olimpíadas de 1956
- Primeiro técnico negro da NBA
- 11 vezes campeão da NBA (em 13 temporadas disputadas como jogador!)
- Campeão da NBA simultaneamente como técnico e jogador (temporada 1968/1969).
Os últimos dois itens do curriculo que mencionei aqui, podem anotar, NUNCA SERÃO IGUALADOS OU SUPERADOS.
ei rodrigo vai postar mais não? faz uma semana q tu não posta
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