||||||||||||||||||||||||||||||||| Cestas de Ontem

Um espaço para os basqueteiros saudosistas que insistem em revirar os arquivos da memória

terça-feira, janeiro 30, 2007

Olha quem está saindo do banco...



Era um 30 de janeiro, há exatos 11 anos.

Los Angeles Lakers e Golden State Warriors se enfrentavam pela temporada de 1996. O jogo tinha apenas três minutos de andamento quando o técnico Del Harris olhou para o banco e chamou o camisa 32. Pela primeira vez, Magic Johnson começava uma partida como reserva.

Naquela noite, o craque voltava ao basquete, após quatro temporadas de aposentadoria. Aos 36 anos, vários quilos acima do peso e com o HIV correndo nas veias, Magic chegou muito perto de um triplo-duplo: 19 pontos, 10 assistências e oito rebotes.

Mesmo fora de forma, Johnson puxou contra-ataques com a leveza de um calouro e comandou a vitória por 128-118. Foi o maior número de pontos e assistências da equipe naquele campeonato.

Tim Hardaway liderou os visitantes com 24 pontos, mas o cestinha do jogo foi Cedric Ceballos, com 33, graças aos passes precisos do mestre.

A derrota para o Houston Rockets no primeiro round dos playoffs encerraria de vez a história de Magic dentro das quadras. Pode até ter ficado um gosto de decepção, mas o retorno em 1996 representou muito mais do que assistências, cestas e rebotes.

Foi uma lição de vida, como o basquete jamais tinha visto.

Johnson anunciou que era portador do HIV em novembro de 1991. Quinze anos depois, fiz uma série de sete matérias para o Globoesporte.com sobre o assunto. Se quiser dar uma olhada, basta clicar aqui.

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Há três décadas, nascia o torneio de enterradas


Estava demorando para o YouTube virar protagonista aqui, não acham? Pois chegou a hora. Os dois vídeos abaixo nos levam até 1976, com o primeiro torneio oficial de enterradas promovido pela antiga ABA.

O ginásio do Denver Nuggets é o palco para Julius Erving, George Gervin, Artis Gilmore, David Thompson e Larry Kenon.

O engraçado é que os jogadores eram obrigados a seguir um roteiro de movimentos estipulados pelo regulamento, o que deixava a competição meio sem graça. Aos poucos, no entanto, a coisa vai esquentando, até que Dr. J entra em cena e mostra ao mundo sua marca registrada, saltando da linha de lances livres. Divirtam-se:




domingo, janeiro 28, 2007

Para ver, recordar e admirar



Já que falamos de Sam Jones no sábado, deixo vocês no domingo com essa belíssima fotografia de um xará dele: KC Jones tenta a bandeja em cima de Wilt Chamberlain. O jogo entre Celtics e 76ers foi em 1968, no Boston Garden. O artista que eternizou a cena é Walter Iooss Jr., craque das lentes que já clicou de Pelé e Ali até LeBron e Sharapova. Aquela do Sam Jones, no texto anterior, também é dele. Aliás, quando tiver um tempo, dê um pulo no site do homem. Vale a pena.

sábado, janeiro 27, 2007

Sam Jones e as duas lições contra o racismo


Lá na primeiríssima caixa de comentários, o leitor Jadiel pediu informações sobre Sam Jones, armador do Boston Celtics na década de 60. Fui revirar o passado do homem que guarda no armário 10 anéis de campeão da NBA e acabei encontrando mais uma dessas deliciosas coincidências do basquete. Jadiel e amigos, por favor me acompanhem em duas viagens no tempo, ambas começando há quatro décadas, em 1966.

Foi naquele ano que Jones ganhou seu oitavo título consecutivo como atleta. Ao fim do jogo 7 contra os Lakers, o lendário Red Auerbach entregou o bastão ao não menos lendário Bill Russell, que passou a ser o primeiro negro a assumir como técnico de um time grande americano.

Também em 1966, a equipe de Texas Western tornou-se a primeira nos Estados Unidos a conquistar o título universitário com um elenco completamente formado por negros, justamente numa faculdade conhecida por pregar abertamente a segregação racial.

Os episódios representam duas derrotas clamorosas da sociedade racista americana dos anos 60. Mas, além disso, qual é a grande coincidência que envolve Sam Jones? Calma, vamos chegar lá.

Na final contra a poderosa e 100% branca Kentucky, o time de Texas Western tinha em quadra um baixinho chamado Willie Worsley. Com oito pontos e quatro rebotes na decisão, coube a ele escalar a tabela e arrancar a rede do aro para guardar de recordação.

Quarenta anos depois, em 2006, a batalha universitária ganhou as telas com Glory road, do diretor James Gartner. Quem interpreta Worsley no filme é um jovem ator de 23 anos chamado... Sam Jones III.

É isso mesmo que vocês estão pensando. O moleque que ajudou a contar no cinema uma das belas histórias anti-racistas de 1966 é o filho do jogador que participou ativamente de um outro golpe na intolerância naquele mesmo ano. Digam aí: é ou não é um mundo pequeno?

sexta-feira, janeiro 26, 2007

O dia em que a Rainha deu uma lição no leiteiro


Com 10 dias de blog, já estava mais que na hora de abrir espaço para as moças, não acham? E nada melhor do que começar por cima. Sem pensar duas vezes, peguei o telefone e acionei, em Marília, um dos nossos maiores especialistas em Hortência: Antonio Carlos Vendramini, amigo e ex-técnico da nossa maior estrela. Entre uma e outra risada, ele tirou do baú um divertido episódio do fim dos anos 80, envolvendo a eterna Rainha, um leiteiro e um elevador.

Conta aí, Vendra:

= = =

Logo que me mudei para Sorocaba, ali por volta de 1987, eu e Hortência morávamos no mesmo condomínio, um em cada prédio. Um dia, cheguei na garagem de manhã cedo, de saída para o treino, e vi aquele alvoroço. O zelador veio pedir minha ajuda para resolver um problema.

Quando abri a porta do elevador, lá estava ela, sentando a mão no leiteiro! Não entendi nada, separei a briga e perguntei o que tinha acontecido.

Foi o seguinte: a Hortência sempre queria ser a primeira a chegar no treino, para cobrar seus 200, 300 arremessos. Naquele dia, ela pegou o elevador no oitavo andar, e o leiteiro tinha apertado todos os botões. Irritada, disse a ele que não podia fazer isso, que deveria ir até o térreo e depois, sim, subir para entregar o leite nos andares.

A resposta do homem veio na hora: "Eu faço assim, vou continuar fazendo assim e quero ver quem vai me impedir de fazer assim".

Pronto. Aí ela deu uns tapas no cara! [risos]

Mais tarde, quando voltei do treino, o zelador veio comentar comigo. Agradeceu minha ajuda e disse que ficou preocupado, que ela podia ter machucado o rapaz. Respondi para ele:

Sabe a única coisa que me deixou preocupado? O risco de ela machucar a mão e não fazer os pontos no jogo do dia seguinte!

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Dois calouros na história do Jogo das Estrelas


É hoje o dia em que a NBA anuncia os cinco titulares de cada conferência para o All-Star Game de 18 de fevereiro. Como o blog está sempre mais interessado no tempo que já passou, vamos fazer uma rápida viagem a dois outros janeiros, para recordar o início da carreira de dois grandes craques.

Em 1995, a NBA procurava desesperadamente pelo novo Michael Jordan (opa, olha ele aqui de novo). O principal candidato a herdar a coroa era o jovem ala Grant Hill, então com 22 anos. A expectativa por um novo ídolo fez de Hill o primeiro calouro a liderar a escolha do público no Jogo das Estrelas, com quase 1.3 milhão de votos.

Dentro da quadra, o novato do Detroit Pistons foi discreto e anotou apenas 10 pontos. O MVP foi Mitch Richmond, do Sacramento Kings, mas o que vale notar é a quantidade de pivôs fantásticos que atuaram naquela partida. O Oeste, que venceu por 139 a 112, tinha Hakeem Olajuwon, David Robinson e Dikembe Mutombo. No Leste, Shaquille O`Neal, Patrick Ewing e Alonzo Mourning. E aí, dá para encarar esses garrafões?

Três anos depois, em 1998, brilhou a estrela de outro candidato a novo ídolo da NBA: Kobe Bryant tornou-se o mais jovem titular num All-Star Game. Aos 19 anos, ele comandou a seleção do Oeste em pleno Madison Square Garden, com 18 pontos, seis rebotes e um punhado de lances geniais, como uma cravada após um giro de 360º.

Kobe só não foi o MVP da noite por causa da incrível performance de... bem, aí vocês precisam permitir que eu volte a citar o nome do homem. Por enquanto, digo apenas que foram 23 pontos, oito assistências, seis rebotes e três roubadas, mesmo doente, após três dias de cama.

A propósito, repararam na bela foto de Kobe em ação nesse All-Star? Adivinhem de quem é aquela sombra no chão da quadra...

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Tem All-Star Game? Pode chamar o magrinho...


Há exatos 51 anos, em 24 de janeiro de 1956, um rapaz esguio levantava o troféu de MVP no sexto All-Star Game da história da NBA. Com 20 pontos e 24 rebotes, ele liderou a conferência Oeste na bela vitória por 108-94 e conquistou a torcida em Rochester. A eleição como craque do Jogo das Estrelas se repetiria outras três vezes ao longo da carreira, um recorde até hoje não alcançado no basquete dos Estados Unidos.

Com vocês, Robert Lee Pettit Jr, ou apenas Bob Pettit, o homem que recebeu dos olheiros o carimbo de magro demais para virar jogador.

O preconceito veio desde o colegial, quando foi cortado duas vezes da equipe de Baton Rouge. Após muita insistência do pai, um xerife local, ele conseguiu se destacar no ataque da Universidade de Louisiana State. E nem assim o povo confiava no sucesso entre os profissionais.

O camisa 9 respondeu com atuações memoráveis, sempre com o uniforme dos Hawks - primeiro em Milwaukee, depois em Saint Louis. Nas suas 11 temporadas, foi ao All-Star Game 11 vezes.

Pouco conhecido dos brasileiros, especialmente os mais novos, Pettit revolucionou a posição 4 e pavimentou o caminho para grandes nomes como Elgin Baylor, Charles Barkley, Karl Malone e Tim Duncan.

Para quem não sabe, foi ele que levou para casa o primeiríssimo troféu de MVP concedido pela NBA, em 1956. E se você ainda duvida do valor do pioneirismo, dê uma olhada nos quatro ganhadores seguintes: Bob Cousy, Bill Russell, Wilt Chamberlain e Oscar Robertson. Que tal?

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Hum... o que será que ele estava pensando?



A foto acima foi feita há exatamente um ano, no dia 22 de janeiro de 2006. Poucos minutos depois, Kobe Bryant encerrou o alongamento, tirou o agasalho e fez 81 pontos contra o Toronto Raptors. Um blog que pretende reverenciar a história não poderia deixar a data passar em branco.

A noite mágica de Scott Skiles em Orlando


Então tá. A gente passa os cinco primeiros textos sem ao menos citar Michael Jordan, aí aparecem duas referências seguidas e, pronto, o povo já acha que isso aqui virou um santuário para o mestre. Saibam que este nome ainda vai aparecer muito por aqui, mas hoje o assunto é outro.

Vamos falar de Scott Skiles, (só por coincidência) atual técnico do ex-time de Jordan. Muito antes de assumir as pranchetas do Chicago Bulls, ele escreveu seu nome na história ao distribuir 30 assistências numa partida, deixando para trás craques como Cousy, Magic e Stockton.

Foi no dia 30 de dezembro de 1990.

Skiles era o razoável armador do Orlando Magic, que recebia o Denver Nuggets para um duelo de desesperados. As equipes disputavam a lanterna da NBA, mas o universo conspirou para a quebra do recorde.

Treinado por Paul Westhead, que hoje comanda Penny Taylor e Diana Taurasi no Phoenix Mercury, o Denver era a grande baba da liga na época. Sem defesa, o time cedia, em média, 130.8 pontos por jogo. Contra os Suns, chegou a levar 107 só no primeiro tempo (?!).

O Orlando tinha bons finalizadores, como Jerry Reynolds, Dennis Scott e Nick Anderson. E foi ali que Skiles se criou. A sete minutos do fim, ele deu sua 29ª assistência, igualando a marca anterior, de Kevin Porter, do New Jersey, em 1978. O locutor oficial anunciou que o recorde estava perto, para delírio dos 15 mil fãs nas arquibancadas da Orlando Arena.

O problema é que Reynolds não estava nem aí.

O ala recebia passes de Skiles e, em vez de chutar, partia para a bandeja, anulando as assistências. A cesta redentora só veio quando faltavam 19.6 segundos do fim, graças aos apelos da torcida, que gritava "shoot, shoot". Placar final: 155-116. Uma noite para a história.

Será que alguém é capaz de superar a marca hoje? Há menos de duas semanas, Steve Nash chegou a 21, contra o Cleveland. Nos últimos 13 meses, o canadense quebrou a marca de 20 três vezes. Vale lembrar que Nash foi treinado por Skiles em sua temporada de calouro.

E você, acha possível?

domingo, janeiro 21, 2007

Michael, Hakeem e o jogo de duas bolas



Algumas imagens, todos sabemos, valem mais que mil palavras.
Outras fazem nossa imaginação viajar. É o caso do flagrante acima, captado há 11 anos pelas lentes do fotógrafo americano Jonathan Daniel.

Parece uma foto normal, mas repare bem. Tanto Jordan como Olajuwon têm o olhar fixo, para o alto, em direções opostas. Se um está mirando a bola, para onde se lança a visão do outro? Para a tabela, à espera de uma sobra? Então qual dos dois está em vantagem, à frente no tempo?

O instante imortalizado na fotografia aconteceu no primeiro período do jogo entre Bulls e Rockets, no United Center, no dia 3 de janeiro de 1996.

Sabe-se que o Chicago saiu vencedor, com um 100-86.

Mas quem ficou com aquele rebote?

sábado, janeiro 20, 2007

A despedida do mestre na casa do Dallas


Quem bate uma bola com a gente hoje é Gustavo de Oliveira, o Texano. Ele conta como foi assistir à última partida de Michael Jordan no ginásio do Dallas Mavericks.

= = =

Quando li o primeiro texto desse blog, a expressão "partida inesquecível" me trouxe boas lembranças. Foi no dia 23 de dezembro de 2002, o ingresso era presente de Natal da minha família. O Dallas Mavericks enfrentaria o Washington Wizards no American Airlines Center. Além de assistir a um jogo da NBA ao vivo, a noite tinha um sabor especial: ver Michael Jordan antes do adeus definitivo.

Gigantesco e mais bonito que o Ibira, o ginásio impressionava. Eu estava na seção 219, na primeira fila, camiseta e boné dos Mavs, câmera digital pendurada no pescoço e "thundersticks" na mão – que guardo até hoje. Devorei o prospecto do jogo, que trazia a escalação dos times:

Nash, Griffin, Finley, Nowitzki e LaFrentz pelo Dallas do técnico Don Nelson; Jordan, Hughes, Stackhouse, Laettner e Haywood pelo Washington do treinador Doug Collins.

O jogo começou corrido e disputado. Jordan não tinha espaço para o arremesso e sempre encontrava Stackhouse ou Hughes abertos. Pelo Dallas, Dirk parecia sonolento, enquanto Nash e Finley se desdobravam para manter o time na partida. O primeiro período terminou sem nenhum lance genial de Jordan, mas os Wizards venciam por um ponto.

No segundo quarto, Don Nelson colocou Shawn Bradley no lugar de LaFrentz. A bola sumia nas mãos do grandalhão a cada rebote. Van Exel também entrou e tocou o terror na defesa rival. O Dallas abriu com Dirk, que começava a acertar seus arremessos. Jordan estava irreconhecível. Fim do primeiro tempo e o Dallas à frente por cinco pontos.

Frustrado com Michael, fui buscar um lanche.

No começo do terceiro período, Finley sentiu uma lesão anterior e foi substituído por Walt Williams, que fez falta dura em Jordan logo no primeiro lance. Foi aí que a magia começou. Walt acendeu uma fagulha do guerreiro adormecido.

Jordan começou a correr como se tivesse 18 anos. Foram oito pontos seguidos, três assistências para Stackhouse e dois tocos. Pronto, Wizards na frente. E o Dallas não sabia como parar aquela fúria.

Don Nelson então pediu tempo. Walt se redimiu, acertou duas bolas de três, mas voltou para o banco. Aí foi a vez de outro Michael jogar bola. Foram duas enterradas sensacionais de Finley e o Dallas finalmente conseguia empatar a partida quase no fim do terceiro período. No último, o corta-luz de Nash e Nowitzki finalmente deu resultado. Laettner e Hughes ficaram pendurados em faltas. Jordan ainda meteu uma bola de três, mas logo saiu. Já era garbage time.

A torcida então se levantou e aplaudiu o Washington Wizards. Era o agradecimento a Jordan depois de sua última partida em Dallas. Aqueles oito minutos mágicos no terceiro quarto fizeram valer a pena o ingresso.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Magic versus Bird, o primeiro encontro


As portas do blog se abrem para Roby Porto, que recorda o nascimento de uma das maiores rivalidades do basquete em todos os tempos. Manda bala, Roby:

= = =

Muitos filmes hoje em dia são contados de trás para frente, ou entremeados de cenas que nos remetem a pontos fundamentais da trama, seja ela no futuro ou no passado. Foi assim com esses dois craques geniais da bola laranja: o enredo foi criado num clímax de decisão, já prevendo o que eles representariam para o basquete mundial.

Aproveitando o convite feito pelo Rodrigo - ao qual agradeço aqui nesse espaço - vou entrar no túnel do tempo e levar vocês comigo ao final dos anos 70.

Foi no dia 26 de março de 1979 que o destino colocou Magic Johnson e Larry Bird frente a frente pela primeira vez numa quadra de basquete. O Special Events Center da Universidade de Utah, em Salt Lake City, seria o palco da decisão do título universitário daquele ano entre os Spartans de Michigan State e os Sycamores de Indiana State.

A final em si já causava surpresa, pois colocava duas universidades de conferências historicamente opostas no caminho da glória: a pouco destacada Vale do Missouri, onde jogava Indiana State - equipe de Larry Bird -, e a famosa Big Ten, que entre várias forças era representada por Michigan State, de Earvin "Magic" Johnson.

O time de Bird, que cursava seu último ano universitário e já era considerado um dos melhores jogadores do país, cumpria uma campanha de dar inveja: treinado pelo novato Bill Hodges – o primeiro a alcançar uma decisão invicto -, acumulava 33 vitórias e nenhuma derrota, e chegava à decisão após derrotar DePaul por 76-74 na semifinal; enquanto a equipe de Magic teve um caminho mais fácil, batendo Penn State por 101-67.

Quinze mil torcedores lotavam o complexo esportivo de Salt Lake City para assistir ao duelo do ano. Transmitido ao vivo para os Estados Unidos, o jogo gerou uma audiência de 24.1 pontos no ibope local, um recorde que dura até hoje.

O jogo em si não foi o drama que muitos esperavam, mas não diminui o impacto histórico do confronto.

Indiana State liderou a partida em apenas três oportunidades, todas nos primeiros cinco minutos, e Bird, que havia marcado 35 pontos na semifinal, não teve uma de suas melhores atuações, terminando com 19 pontos e aproveitando apenas sete de seus 21 arremessos.
Atuando numa zona 2-3 que foi sua característica durante o torneio, a equipe de Magic Johnson dominou o jogo defensivamente e fechou o primeiro tempo com a vantagem de 37 a 28.

Magic, porém, só voltou a pontuar após oito minutos de bola em jogo no segundo tempo, permitindo uma pequena reação de Indiana, que encurralou os Spartans atrás da linha de lance livre.

No fim, ajudado pelos 24 pontos de Magic, Michigan State acabou conquistando o título, com o placar final de 75-64.

Após o confronto, algumas declarações deixariam claros o calibre e a mentalidade dos dois jogadores que viriam a encantar nossos olhos nas décadas seguintes. Num vestiário onde a tristeza era visível, Larry Bird encontrou forças para afastar a impressão de recluso e pouco afável, dizendo o seguinte:

"MSU é uma equipe excelente, é preciso dar crédito à marcação que eles fizeram, além de contar com um craque excepcional em Magic Johnson".

O espírito coletivo e os fundamentos do basquete estavam resgatados após aquela temporada. Só temos que agradecer.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

E Chamberlain pegou 55 rebotes... contra Russell


Os livros não mentem.

Foi com essa frase que Oscar Robertson respondeu quando lhe perguntaram, a seco, se Wilt Chamberlain tinha sido o maior jogador de todos os tempos.

Bem, se Michael Jordan surgiu depois para dar às enciclopédias um nariz de Pinóquio, aí é outra história. Mas não dá para negar o valor do camisa 13 que, certa noite, despejou uma centena de pontos na cesta adversária.

Chamberlain já teve média de 50.4 pontos em uma temporada; acertou 18 arremessos seguidos numa partida; liderou a NBA em assistências (hã?!) em 1968; e jamais (eu disse jamais!) foi eliminado por faltas. O tal placar centenário geralmente ofusca os grandes feitos do mestre.

Quer ver um deles?

No dia 24 de novembro de 1960, o Philadelphia Warriors enfrentou o Boston Celtics de Bill Russell. O placar final foi 132-129 para o time de Russell, que anotou 18 pontos, 19 rebotes e cinco assistências. Até aí, nenhuma novidade: o Boston era o atual bicampeão da liga e levantaria o caneco de novo nos seis anos seguintes. O mais impressionante, contudo, foi a atuação defensiva de um jovem pivô dos Warriors:

Aos 24 anos, o garoto Wilt pegou 55 rebotes.

Era apenas a segunda temporada do gigante na NBA, e a média dele foi de 27.2 rebotes por partida, a maior da história. O fato é ainda mais simbólico quando lembramos que Russell caminhava para o quinto ano de experiência e já tinha apanhado 51 contra o Syracuse Nationals.

Alguns recordes da liga, claro, vão durar para sempre. E você, o que acha mais difícil? Um jogador de hoje fazer 100 pontos ou pegar 55 rebotes?

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Mágico de Oz


Para ganhar as páginas deste blog, a memória nem precisa estar tão amarelada. Sendo assim, passo a palavra a Fábio Balassiano, que volta quase três anos no tempo para recordar o dia em que acordou o prédio inteiro.

Conta, Bala:

= = =

O dia era 13 de maio de 2004, uma quinta-feira. Lakers e Spurs se engalfinhavam em uma partida memorável. Se não estavam no esplendor da técnica, emoção e disposição não faltavam. Duncan e Manu se refestelavam entre um pick e outro em cima de Shaq. Entre um erro e outro, Kobe recolocava o time californiano no jogo. Era a quinta partida de uma série empatada que caminhava para o desfecho no agonizante sétimo encontro. Faltando menos de dois minutos, tudo empatado.

Na cabeça de um torcedor dos Lakers, como eu, vários filmes passavam. Fora este mesmo Spurs que um ano antes terminou com a hegemonia de três títulos. E, na minha cabeça, o ano em que Karl Malone, então vestindo o "nosso" uniforme, se aposentaria com um título. Com menos de 120 segundos por jogar, só me lembrava da primeira parte do roteiro.

Após um pedido de tempo em que Gregg Popovich gritou apenas um "façam bloqueios e dêem a bola na mão de Duncan", o "escolhido" recebeu, gingou na frente do Shaq e, caindo, arremessou. A bola entrou. Um chute de sorte que despertou um palavrão meu. Meu irmão, no oitavo sono, acordou assustado. Restavam míseros 0.4. Segundo ele, "nem o Michael Jordan reverteria a situação". E ele estava certo.

Quem subverteu tudo foi Derek Fisher, errante armador dos três anéis anteriores. A bola caiu, os Lakers venceriam aquele jogo e a série no sábado seguinte. O placar, 74 a 73, não dizia tudo. O basquete, o meu basquete, tinha um novo herói. Um herói de mentira.

Uma bola como aquela vindo de Jordan, Kobe, Jerry West, Isiah, seria normal, aceitável. São gênios. Diferentes de Fisher, que é de carne e osso, o que torna o lance ainda mais real, palpável. Por isso a bola foi ainda mais significativa. Acordei o meu prédio. Zombei do meu irmão. Não dormi a noite toda. Clicava de site em site procurando notícias do arremesso mais improvável de todos os meus tempos de basquete.

Derek Fisher nunca foi, nem será, um grande jogador. E é por isso que é o meu herói. De carne e osso. Como eu.

= = =

Agora que você já leu o relato do Fábio, se quiser ver ou rever as imagens do milagre de Fisher, basta dar um pulo aqui.

terça-feira, janeiro 16, 2007

O alemãozinho e o Brasil no topo do planeta


Na medida do possível, o leitor vai dar as cartas por estas bandas. Logo no primeiro dia, foram várias sugestões de temas. Vamos então com a de Jarson Dantas, que nos lança quase meio século no passado. E quem nos ajuda a recordar o Brasil bicampeão do mundo é um personagem fundamental nas campanhas de 1959 e 1963. Na tarde desta segunda, bati um papo por telefone com Wlamir Marques, um dos maiores jogadores brasileiros de todos os tempos.

Daqui a exatos seis meses, no dia 16 de julho, Wlamir completa 70 anos. E o homem segue em plena atividade, como professor e comentarista da ESPN Brasil. Aos amigos do Cesta de Ontem, ele fala sobre a comoção na final de 63 contra os Estados Unidos, a mão de ferro do técnico Kanela com os atletas e o episódio curioso que quase lhe rendeu o corte antes do Mundial de 59, quando pulou a janela do hotel em Volta Redonda e fugiu da concentração para ver o nascimento do filho.

- Como foi aquela festa no Maracanãzinho lotado, após a vitória sobre os americanos na final de 1963?
- Olha, o ginásio estava cheio, gente pendurada por todo lado. Era uma época de ouro do esporte brasileiro: o basquete, o futebol, o boxe, com Éder Jofre. O país respirava as primeiras conquistas mundiais. E não eram conceitos de televisão. A final do basquete, por exemplo, só foi transmitida ao vivo para São Paulo, e mesmo assim com vários links ao longo da Via Dutra. Então, quando terminou o jogo, teve invasão de quadra, perdemos todos os nossos pertences [risos].

- A idolatria era muito forte na época?
- Nós éramos bastante conhecidos, mas o curioso é que éramos bem vistos pelo nome, não pela imagem. Os bicampões do mundo saíam na rua e... tudo bem. Só um ou outro sujeito reconhecia, porque o acompanhamento maior na época era pelo rádio e pelos jornais.

- A preparação era muito diferente do que se vê hoje?
- Ah, sim! Para chegar a esse bicampeonato mundial, foram quatro ou cinco meses de preparação. Jogamos o Sul-Americano no Chile, o Pan em São Paulo, e depois fomos para o Rio, com a mesma equipe. Naquela época, só recebíamos uma ajuda de custo, o equivalente a uns R$ 2 mil.

- E por falar em preparação, você quase foi cortado pelo técnico Kanela antes do Mundial de 1959. Como foi essa história?
- Era o dia 22 de dezembro e a seleção estava em Volta Redonda, no Rio. Eu queria ver meu filho nascer e o Kanela não deixava. Falei pro Amaury: "Vou embora". À noite, pulei a janela do hotel, peguei um ônibus e fui para Piracicaba. De manhã, o Kanela foi perguntar para o Amaury: "Cadê o alemãozinho?" [risos]. Ele ficou muito bravo e ameaçou me cortar se eu não voltasse. No fim das contas acabou dando tudo certo e eu fui para o Mundial. Mas o Kanela era desse tipo mesmo.

- É verdade que o futebol quase te roubou do basquete?
- Eu era um bom goleiro. O Aymoré Moreira [ex-goleiro e técnico da seleção na Copa de 62] era fanático pra que eu ficasse no futebol. Na época em que treinei no Flamengo, em 1955, eu me dava muito bem com jogadores. O Zagallo, por exemplo. Eles me falavam muito da vida, da rotina, e acabaram me assustando [risos]. Aí fui para o basquete.

- Melhor assim, né. Você e Amaury foram os maiores craques daquela geração. Ainda conversam sobre basquete hoje?
- Eu falo com o Amaury de vez em quando. Ele fica o dia todo jogando golfe [risos] e, quando quer se inteirar de algum fato do basquete, me liga. Outro dia, me ligou para dizer que estava arrumando as coisas e encontrou uma foto antiga, com vários jogadores. Ele disse: "Olha, parabéns! Desses aqui, só nós dois estamos vivos!" [risos].

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Um sonho nas quadras de handebol da África


Saudosista - adj. e s.m e f. - Quem vive da recordação das coisas boas do passado.

Então seja bem-vindo. Nasce hoje o Cestas de Ontem, uma espécie de braço histórico do Rebote. A idéia aqui é reunir amigos para recordar alguns momentos marcantes do basquete. Vale tudo: o craque do passado, aquela partida inesquecível, o vídeo raro, a foto amarelada. E a caixa de comentários, lógico, está sempre aberta para você.

Na estréia, que tal dar uma passada rápida em 1978?

Enquanto o Washington Bullets tomava a NBA de assalto e a seleção brasileira arrancava o bronze no Mundial das Filipinas, a pequena Escola de Professores Muçulmanos da Nigéria se preparava para disputar um modesto festival esportivo local, na cidade de Sokoto.

Carente no garrafão, o time de basquete foi pedir emprestado ao técnico de handebol um garoto de 15 anos que parecia ter mobilidade e boa altura para jogar de pivô. Permissão dada, começava ali um belo caso de amor entre a bola laranja e o genial Hakeem Olajuwon.

De lá para cá, o craque cavou, aos poucos, uma vaguinha entre os melhores de todos os tempos. Bicampeão com o Houston Rockets, foi o único jogador da história a ser eleito, na mesma temporada, MVP, melhor defensor e MVP das finais. Já aposentado, continua sendo o líder absoluto em tocos na NBA, com 3.833, além de integrar o Top-10 de todos os tempos em rebotes, pontos e roubadas. Ninguém fez igual.

Não satisfeito, Hakeem é um dos quatro felizardos a registrar um quádruplo-duplo na NBA. Foi 1990, pelo Houston, com 18 pontos, 16 rebotes, 11 tocos e 10 assistências diante do Milwaukee Bucks.

Como se não bastasse o que fez dentro da quadra, ele ainda está por aí, ajudando as novas gerações. Em sua clínica para pivôs, tem orientado, por exemplo, o jovem Emeka Okafor. Não por coincidência, dia desses o jogador do Charlotte distribuiu 10 tocos contra o New York Knicks.

Daqui a uma semana, no dia 21, Olajuwon completa 44 anos. E a festa terá sabor especial. Este 2007 é o último ano que separa o homem conhecido como The Dream de uma indicação para o Hall da Fama.

É nessas horas que a gente pensa... bendito handebol.